sábado, 2 de novembro de 2013


COMPREENDENDO O JEJUM

O jejum é a abstinência total ou parcial de alimentos por um período definido e propósito específico. Tem sido praticado pela humanidade em praticamente todas as épocas, nações, culturas e religiões. Pode ser com finalidade espiritual ou até mesmo medicinal, visto que o jejum traz tremendos benefícios físicos com a desintoxicação que produz no corpo. Mas nosso enfoque é o jejum bíblico.

Muitos cristãos hoje desconhecem o que a Bíblia diz acerca do jejum. Ou receberam um ensino distorcido ou não receberam ensinamento algum sobre este assunto.

Creio que a Igreja de hoje vive dividida entre dois extremos: aqueles que não dão valor algum ao jejum e aqueles que se excedem em suas ênfases sobre ele. Penso que Deus queira despertar-nos para a compreensão e prática deste princípio que, sem dúvida, é uma arma poderosa para o cristão.

Não há regras fixas na Bíblia sobre quando jejuar ou qual tipo de jejum praticar, isto é algo pessoal. Mas a prática do jejum, além de ser recomendação bíblica, traz consigo alguns princípios que devem ser entendidos e seguidos.

A BÍBLIA ORDENA O JEJUM ?

Não. No Velho Testamento, na lei de Moisés, os judeus tinham um único dia de jejum instituído: o do Dia da Expiação (Lv.23:27), que também ficou conhecido como "o dia do jejum" (Jr.36:6) e ao qual Paulo se referiu como "o jejum" (At.27:9).

Mas em todo o Velho e Novo Testamento não há uma única ordem acerca de jejuarmos. Contudo, apesar de não haver um imperativo acerca desta prática, a Bíblia esta cheia de menções ao jejum. Fala não apenas de pessoas que jejuaram e da forma como o fizeram, mas infere que nós também jejuaríamos e nos instrui na forma correta de faze-lo.

Muitos ensinadores falharam de maneira grave ao dizer que, por não haver nenhuma ordem específica para o jejum, então não devemos jejuar. Mas quando consideramos o ensino de Jesus sobre o jejum, não há como negar que o Mestre esperava que jejuássemos :

"Quando jejuardes, não vos mostreis contristados como os hipócritas; porque desfiguram o rosto com o fim de parecer aos homens que jejuam. Em verdade vos digo que eles já receberam a sua recompensa. Tu, porém, quando jejuardes, unge a cabeça e lava o rosto, com o fim de não parecer aos homens que jejuas, e sim ao teu Pai, em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará." (Mt.6:16-18).

Embora Jesus não esteja mandando jejuar, suas palavras revelam que ele esperava de nós esta prática. Ele nos instruiu até na motivação correta que se deve ter ao jejuar. E quando disse que o Pai recompensaria a atitude correta do jejum, nos mostrou que tal prática produz resultados!

Algumas pessoas dizem que se as epístolas não dizem nada sobre jejuar é porque não é importante, e desprezam o ensino de Jesus sobre o jejum. Isto é errado! Jesus não veio ensinar os judeus a viverem bem a Velha Aliança, Ele veio instituir a Nova Aliança, e todos os seus ensinos apontavam para as práticas dos cidadãos do reino de Deus.

Quando estava para ser assunto ao céu, deu ordem aos seus apóstolos que ensinassem as pessoas a guardar TUDO o que Ele tinha ordenado (Mt.28:20), inclusive o modo correto de jejuar!

O próprio Jesus praticou o jejum, e lemos em Atos que os líderes da Igreja também o faziam. Registros históricos dos pais da igreja também revelam que o jejum continuou sendo observado como prática dos crentes muito tempo depois dos apóstolos. O jejum, portanto, deve ser parte de nossas vidas e praticado de forma equilibrada, dentro do ensino bíblico.

Embora o próprio Senhor Jesus tenha jejuado por quarenta dias e quarenta noites no deserto, e muitas vezes ficava sem comer (quer por falta de tempo ministrando ao povo - Mc.6:31, quer por passar as noites só orando sem comer - Mc.6:46), devemos reconhecer que Ele e seus discípulos não observavam o jejum dos judeus de seus dias (exceto o do dia da Expiação).

Era costume dos fariseus jejuar dois dias por semana (Lc.18:12), mas Jesus e seus discípulos não o faziam. Aliás chegaram a questionar Jesus acerca disto:

"Disseram-lhe eles: Os discípulos de João e bem assim os fariseus freqüentemente jejuam e fazem orações; os teus, entretanto, comem e bebem. Jesus, porém, lhes disse: Podeis fazer jejuar os convidados para o casamento, enquanto está com eles o noivo? Dias virão, contudo, em que lhes será tirado o noivo; naqueles dias, sim, jejuarão." (Lc.5:33-35).

O Mestre mostrou não ser contra o jejum, e disse que depois que Ele fosse "tirado" do convívio direto com os discípulos (voltando ao céu) eles haveriam de jejuar. Jesus não se referiu ao jejum somente para os dias entre sua morte e ressurreição/reaparição aos discípulos (ao mencionar os dias que eles estariam sem o noivo), e sim aos dias a partir de sua morte.

Contudo, Jesus deixou bem claro que a prática do jejum nos moldes do que havia em seus dias não era o que Deus esperava. A motivação estava errada, as pessoas jejuavam para provar sua religiosidade e espiritualidade, e Jesus ensinou a faze-lo em secreto, sem alarde.

Sabe, o jejum pode ser uma prática vazia se não for feito de maneira correta. Isto aconteceu nos dias do Velho Testamento, quando o povo começou a indagar:
"Por que jejuamos nós, e não atentas para isto? Por que afligimos a nossa alma, e tu não o levas em conta?" (Is.58:3a).

E a resposta de Deus foi exatamente a de que estavam jejuando de maneira errada:
"Eis que, no dia em que jejuais, cuidais dos vossos próprios interesses e exigis que se faça todo o vosso trabalho. Eis que jejuais para contendas e para rixas e para ferirdes com punho iníquo; jejuando assim como hoje, não se fará ouvir a vossa voz no alto." (Is.58:3b,4).

Por outro lado, o versículo está inferindo que se observado de forma correta, Deus atentaria para isto e a voz deles seria ouvida.

O PROPÓSITO DO JEJUM

Gosto de uma afirmação de Kenneth Hagin acerca do jejum: "O jejum não muda a Deus. Ele é o mesmo antes, durante e depois de seu jejum. Mas, jejuar mudará você. Vai lhe ajudar a manter-se mais suscetível ao Espírito de Deus". O jejum não tornará Deus mais bondoso ou misericordioso para conosco, ele está ligado diretamente a nós, à nossa necessidade de romper com as barreiras e limitações da carne. O jejum deixará nosso espírito atento pois mortifica a carne e aflige nossa alma.

Jesus deixou-nos um ensino precioso acerca disto quando falava sobre o jejum:
"Ninguém põe vinho novo em odres velhos; do contrário, o vinho romperá os odres; e tanto se perde o vinho como os odres. Mas põe-se vinho novo em odres novos." (Mc.2:22).

O odre era um recipiente feito com pele de animais, que era devidamente preparada mas, com o passar do tempo envelhecia e ressecava. O vinho, era o suco extraído da uva que fermentava naturalmente dentro do odre. Portanto, quando se fazia o vinho novo, era sábio colocá-lo num recipiente de pele (o odre) que não arrebentasse na hora em que o vinho começasse a fermentar, e o melhor recipiente era o odre novo.

Com essa ilustração Jesus estava ensinado-nos que o vinho novo que Ele traria (o Espírito Santo) deveria ser colocado em odres novos, e o odre (ou recipiente do vinho) é nosso corpo. A Bíblia está dizendo com isto que o jejum tem o poder de "renovar" nosso corpo. A Escritura ensina que a carne milita contra o espírito, e a melhor maneira de receber o vinho, o Espírito, é dentro de um processo de mortificação da carne.

Creio que o propósito primário do jejum é mortificar a carne, o que nos fará mais suscetíveis ao Espírito Santo. Há outros benefícios que decorrerão disto, mas esta é a essência do jejum.

Alguns acham que o jejum é uma "varinha de condão" que resolve as coisas por si mesmo, mas não podemos ter o enfoque errado. Quando jejuamos, não devemos crer NO JEJUM, e sim em Deus. A resposta às orações flui melhor quando jejuamos porque através desta prática estamos liberando nosso espírito na disputada batalha contra a carne, e por isso algumas coisas acontecem.

Por exemplo, a fé é do espírito e não da carne; portanto, ao jejuar estamos removendo o entulho da carne e liberando nossa fé para se expressar.

Quando Jesus disse aos discípulos que não puderam expulsar um demônio por falta de jejum (Mt.17:21), ele não limitou o problema somente a isto mas falou sobre a falta de fé (Mt.17:19,20) como um fator decisivo no fracasso daquela tentativa de libertação.

O jejum ajuda a liberar a fé! O que nos dá vitória sobre o inimigo é o que Cristo fez na cruz e a autoridade de seu nome. O jejum em si não me faz vencer, mas libera a fé para o combate e nos fortalece, fazendo-nos mais conscientes da autoridade que nos foi delegada.

Mas apesar do propósito central do jejum ser a mortificação da carne, vemos vários exemplos bíblicos de outros motivos para tal prática:

a) No Velho Testamento encontramos diferentes propósitos para o jejum:

Consagração – O voto do nazireado envolvia a abstinência/jejum de determinados tipos de alimentos (Nm.6:3,4);

Arrependimento de pecados – Samuel e o povo jejuando em Mispa, como sinal de arrependimento de seus pecados (I Sm.7:6, Ne.9:11);

Luto – Davi jejua em expressão de dor pela morte de Saul e Jônatas, e depois pela morte de Abner. (II Sm.1:12 e 3:35);

Aflições – Davi jejua em favor da criança que nascera de Bate-Seba, que estava doente, à morte (II Sm.12:16-23); Josafá apregoou um jejum em todo Judá quando estava sob o risco de ser vencido pelos moabitas e amonitas (II Cr.20:3);

Buscando Proteção – Esdras proclamou jejum junto ao rio Ava, pedindo a proteção e benção de Deus sobre sua viagem (Ed.8:21-23); Ester pede que seu povo jejue por ela, para proteção no seu encontro com o rei (Et.4:16);

Em situações de enfermidade – Davi jejuava e orava por outros que estavam enfermos (Sl.35:13);

Intercessão – Daniel orando por Jerusalém e seu povo (Dn.9:3, 10:2,3)

b) Nos Evangelhos

Preparação para a Batalha Espiritual – Jesus mencionou que determinadas castas só sairão por meio de oração e jejum, que trazem um maior revestimento de autoridade (Mt.17:21);

Estar com o Senhor – Ana não saía do templo, orando e jejuando freqüentemente (Lc.2:37);

Preparar-se para o Ministério – Jesus só começou seu ministério depois de ter sido cheio do Espírito Santo e se preparado em jejum (prolongado) no deserto (Lc.4:1,2);

c) Em Atos dos Apóstolos vemos a Igreja praticando o jejum em diversas situações, tais como:

Ministrar ao Senhor – Os líderes da igreja em Antioquia jejuando apenas para adorar ao Senhor (At.13:2);

Enviar ministérios – Na hora de impor as mãos e enviar ministérios comissionados (At.13:3);

Estabelecer presbíteros – Além de impor as mãos com jejum sobre os enviados, o faziam também sobre os que recebiam autoridade de governo na igreja local, o que revela que o jejum era um princípio praticado nas ordenações de ministros (At.14:23).

d) Nas Epístolas só encontramos menções de Paulo de ter jejuado (II Co.6:3-5; 11:23-27).

DIFERENTES FORMAS DE JEJUM

Há diferentes formas de jejuar. As que encontramos na Bíblia são:

a) Jejum PARCIAL. Normalmente o jejum parcial é praticado em períodos maiores ou quando a pessoa não tem condições de se abster totalmente do alimento (por causa do trabalho, por exemplo). Lemos sobre esta forma de jejum no livro de Daniel:

"Naqueles dias, eu, Daniel, pranteei durante três semanas. Manjar desejável não comi, nem carne, nem vinho entraram em minha boca, nem me ungi com óleo algum, até que se passaram as três semanas." (Dn.10:2,3).

O profeta Daniel diz exatamente o quê ficou sem ingerir: carne, vinho e manjar desejável. Provavelmente se restringiu à uma dieta de frutas e legumes, não sabemos ao certo.

O fato é que se absteve de alimentos, porém não totalmente. E embora tenha escolhido o que aparentemente seja a forma menos rigorosa de jejuar, dedicou-se à ela por três semanas.

Em outras situações Daniel parece ter feito um jejum normal (Dn.9:3), o que mostra que praticava mais de uma forma de jejum. Ao fim deste período, um anjo do Senhor veio a ele e lhe trouxe uma revelação tremenda. Declarou-lhe que desde o primeiro dia de oração o profeta já fora ouvido (v.12), mas que uma batalha estava sendo travada no reino espiritual (v.13) o que ocorreria ainda no regresso daquele anjo (v.20). Aqui aprendemos também sobre o poder que o jejum tem nos momentos de guerra espiritual.

b) Jejum NORMAL. É a abstinência de alimentos mas com ingestão de água. Foi a forma que nosso Senhor adotou ao jejuar no deserto. Cresci ouvindo sobre a necessidade de se jejuar bebendo água; meu pai dizia que no relato do evangelho não há menção de Cristo ter ficado sem beber ou ter tido sede (e ele estava num deserto!):

"Jesus, cheio do Espírito Santo, voltou do Jordão e foi guiado pelo mesmo Espírito, no deserto, durante quarenta dias, sendo tentado pelo Diabo. Nada comeu naqueles dias, ao fim dos quais teve fome." (Mt.4:2).

Denominamos esta forma de jejum como normal, pois entendemos ser esta a prática mais propícia nos jejuns regulares (como o de um dia).

c) Jejum TOTAL. É abstinência de tudo, inclusive de água. Na Bíblia encontramos poucas menções de ter alguém jejuado sem água, e isto dentro de um limite: no máximo três dias.

A água não é alimento, e nosso corpo depende dela a fim de que os rins funcionem normalmente e que as toxinas não se acumulem no organismo. Há dois exemplos bíblicos deste tipo de jejum, um no Velho outro no Novo Testamento:

Ester, num momento de crise em que os judeus (como povo) estavam condenados à morte por um decreto do rei, pede a seu tio Mardoqueu que jejuem por ela:

"Vai, ajunta a todos os judeus que se acharem em Susã, e jejuai por mim, e não comais, nem bebais por três dias, nem de noite nem de dia; eu e as minhas servas também jejuaremos. Depois, irei ter com o rei, ainda que é contra a lei; se perecer, pereci." (Et.4:16).

Paulo, na sua conversão também usou esta forma de jejum, devido ao impacto da revelação que recebera:

"Esteve três dias sem ver, durante os quais nada comeu, nem bebeu."(At.9:9).

Não há qualquer outra menção de um jejum total maior do que estes (a não ser o de Moisés e Elias numa condição diferente que explicaremos adiante). A medicina adverte contra um período de mais de três dias sem água, como sendo nocivo.

Devemos cuidar do corpo ao jejuar e não agredi-lo; lembre-se de que estará lutando contra sua carne (natureza e impulsos) e não contra o seu corpo.

A DURAÇÃO DO JEJUM

Quanto tempo deve durar um jejum? A Bíblia não determina regras deste gênero, portanto cada um é livre para escolher quando, como e quanto jejua.

Vemos vários exemplos de jejuns de duração diferente nas Escrituras:

1 dia - O jejum do Dia da Expiação
3 dias - O jejum de Ester (Et.4:16) e o de Paulo (At.9:9);
7 dias - Jejum por luto pela morte de Saul (I Sm.31:13);
14 dias - Jejum involuntário de Paulo e os que com ele estavam no navio (At.27:33);
21 dias - O jejum de Daniel em favor de Jerusalém (Dn.10:3);
40 dias - O jejum do Senhor Jesus no deserto (Lc.4:1,2);

OBS: A Bíblia fala de Moisés (Ex.34:28) e Elias (I Re.19:8) jejuando períodos de quarenta dias. Porém vale ressaltar que estavam em condições especiais, sob o sobrenatural de Deus. Moisés nem sequer bebeu água nestes 40 dias, o que humanamente é impossível. Mas ele foi envolvido pela glória divina.

O mesmo se deu com Elias, que caminhou 40 dias na força do alimento que o anjo lhe trouxe. Isto é um jejum diferente que começou com um belo "depósito", uma comida celestial. Jesus, porém, fez um jejum normal com esta duração.

Muitas pessoas erram ao fazer votos ligados à duração do jejum... Não aconselho ninguém fazer um voto de quanto tempo vai jejuar, pois isso te deixará "preso" no caso de algo fugir ao seu controle. Siga o conselho bíblico:

"Quando a Deus fizeres algum voto, não tardes em cumpri-lo; porque não se agrada de tolos. Cumpre o voto que fazes.

Melhor é que não votes do que votes e não cumpras". (Ec.5:4,5).

É importante que haja uma intenção e um alvo quanto à duração do jejum no coração, mas não transforme isto em voto. Já intentei jejuns prolongados e no meio do caminho fui forçado a interromper.

Mas também já comecei jejuns sem a intenção de prolongá-lo e, no entanto, isto acabou acontecendo mesmo sem ter feito os planos para isto.

O JEJUM PROLONGADO

Há algo especial num jejum prolongado, mas deve ser feito sob a direção de Deus (as Escrituras mostram que Jesus foi guiado pelo Espírito ao seu jejum no deserto – Lc.4:1). Conheço irmãos que tem jejuado por trinta e até quarenta dias, embora eu, pessoalmente, não tenha feito um jejum tão longo. Cada um deles confirma ter recebido de Deus uma direção para tal.

Vale ressaltar também que certos cuidados devem ser tomados. Não podemos brincar com o nosso corpo. Uma dieta para desintoxicação do organismo antes do jejum é recomendada, e também na quebra do jejum prolongado (mais de 3 dias).

Procure orientação e acompanhamento médico se o Senhor lhe dirigir a um jejum deste gênero. Há muita instrução na forma de literatura que também pode ser adquirida.

PODEMOS FALAR QUE ESTAMOS JEJUANDO ?

Algumas pessoas são extremistas quanto a discrição do jejum, enquanto outras, à semelhança dos fariseus, tocam trombeta diante de si.

Em Mateus 6:16-18, Jesus condena o exibicionismo dos fariseus querendo parecer contristados aos homens para atestar sua espiritualidade.

Ele não proibiu de se comentar sobre o jejum, senão a própria Bíblia estaria violando isto ao contar o jejum que Jesus fez... Como souberam que Cristo (que estava sozinho no deserto) fez um jejum de quarenta dias? Certamente porque Ele contou!

Não saiu alardeando perante todo mundo, mas discretamente repartiu sua experiência com os seus discípulos.

Eu, particularmente, comecei a jejuar estimulado pelo relato das experiências de outros irmãos. Depois é que comecei (aos poucos) a entender o ensino bíblico sobre o jejum. E louvo a Deus pelas pessoas que me estimularam!

Sabe, precisamos tomar cuidado com determinadas pessoas que não tem o que acrescentar à nossa edificação e somente atacam e criticam.

Lembro-me que o primeiro jejum que fiz na minha adolescência: cortei só o almoço mas tomei um refrigerante para não "sofrer" muito; fiz isto para orar por um amigo que queria ver batizado no Espírito Santo. Aquele rapaz já havia recebido tanta oração, mas nada havia acontecido ainda.

Portanto, jejuei e orei em seu favor. Hoje sei que não foi grande coisa mas, na época, foi o meu melhor. Pois bem, alguém ficou sabendo e me ridicularizou, disse que jejum de verdade era ficar o dia todo sem comer nada e bebendo no máximo um pouco de água; esta pessoa disse que eu estava perdendo meu tempo e que só fizera um "regimezinho", pois o verdadeiro jejum não admitia nem bala açucarada na boca, quanto mais um refrigerante!... mas naquele dia meu amigo foi cheio do Espírito Santo e preferi acreditar que o jejum funcionava.

Depois ouvi outros irmãos comentarem sobre jejuar mais de um dia e "fui atrás" , e assim, aos poucos, fui aprendendo (a jejuar e sobre o jejum) aquilo que não aprendi na igreja ou na literatura cristã. Penso que de forma sábia e cuidadosa podemos estimular outros à prática do jejum, basta partilharmos nossas experiências e incentiva-los.

CONCLUINDO

Haverá períodos em que o Espírito Santo vai nos atrair mais para o jejum, e épocas em que quase não sentiremos a necessidade de faze-lo. Já passei anos sem receber nenhum impulso especial para jejuns de mais de três dias e, mesmos estes, foram poucos.

E houve épocas em que, seguidamente sentia a necessidade de faze-lo. Porém, penso que o jejum normal de um dia de duração é algo que os cristãos deveriam praticar mais, mesmo sem sentir nenhuma "urgência" espiritual para isto.

Quando meu filho Israel estava para nascer, o Senhor trouxe um profundo peso de oração e intercessão ao meu coração. Sabia que devia jejuar; era uma "urgência" dentro de mim.

Não ouvi uma voz sobrenatural, não tive nenhuma visão ou sonho a respeito, simplesmente sabia que tinha de jejuar até romper algo, e o fiz por seis dias. Ao final soube que havia alcançado uma vitória.

Na ocasião do parto, minha esposa teve uma complicação e quase perdemos nosso primeiro filho; contudo, a batalha já havia sido ganha e o poder de Deus prevaleceu. Devemos ser sensíveis e seguir os impulsos do Espírito de Deus nesta área.

Isto vale não só para começar a jejuar mas até para quebrar o jejum. Já fiz jejuns que queria prolongar mais e senti que não deveria faze-lo, pois a motivação já não era mais a mesma...

Encerro desafiando-o a praticar mais o jejum, e certamente você descobrirá que o poder desta arma que o Senhor nos deu é difícil de se medir com palavras. A experiência fortalecerá aquilo que temos dito. Que o Senhor seja contigo e te guie nesta prática!

TESTEMUNHO DE CRISTO:

“Mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e ser-me-eis testemunhas, tanto em Jerusalém, como em toda a Judéia e Samária, e até os confins da terra”. - Atos 1:8

Esta é uma palavra do Senhor Jesus dada aos seus apóstolos após sua ressurreição e antes de sua ascensão gloriosa. Contudo, não se limitava só a eles, é uma palavra que foi dada a toda Igreja. Como eles compunham o grupo inicial da Igreja, a receberam, mas esta palavra ainda revela o plano e vontade de Deus para todo cristão. Nenhum de nós foi ganho para Jesus para ficar sem fazer nada. Pedro exortou os cristãos em sua segunda epístola, mostrando-lhes que Deus não quer que sejamos “ociosos e infrutíferos” (II Pe.1:8). Temos uma responsabilidade a exercer. Fomos alcançados com um propósito:

“... mas vou prosseguindo, para ver se poderei alcançar aquilo para o que fui alcançado por Cristo Jesus”. - Filipenses 3:12

Paulo declarou que devemos alcançar aquilo para o qual fomos alcançados. Usamos um lema na igreja que pastoreio: “alcançados para alcançar”. Entendemos que Jesus nos alcançou não só para nos livrar da condenação eterna e nos levar para a glória celestial, mas também para que possamos cumprir Seu propósito aqui na terra, nesta vida.

Depois de nos alcançar, Deus colocou um alvo diante de cada um de nós: precisamos crescer e nos conformar com a imagem de Jesus e precisamos frutificar enquanto caminhamos dentro deste processo. O plano revelado de Jesus a Sua Igreja foi o de fazer de cada um de nós suas testemunhas. Vivemos para isto, e se nossa vida cristã não está servindo a este propósito é porque precisa ser remodelada ao padrão divino.

DEFINIÇÃO DE TESTEMUNHA

Durante muito tempo tive um conceito errado do que é ser uma testemunha de Cristo. De alguma forma, talvez pela ênfase das igrejas nesta direção, associei o verbo “testemunhar” a “pregar” ou “evangelizar”. Sei que o resultado do testemunho que os apóstolos levavam eram gente sendo evangelizada e que aproveitavam muito bem suas oportunidades de testemunhar para proclamar a palavra de Deus, mas testemunhar não é pregar nem tampouco evangelizar. Quando os líderes religiosos do judaísmo tentaram proibir os apóstolos de falarem de Jesus, a resposta dada por eles mostra que eles entendiam muito bem o significado de ser uma testemunha de Cristo:

“Pois nós não podemos deixar de falar das coisas que temos visto e ouvido”. - Atos 4:20

Para eles não se tratava simplesmente de pregar, mas sim de contar tudo o que viram e ouviram. É isto que uma testemunha faz! Quando Paulo recebeu a comissão de ser uma testemunha de Cristo, foi colocado debaixo do mesmo encargo de falar daquilo que veria e ouviria:

“Porque hás de ser sua testemunha para com todos os homens do que tens visto e ouvido”. - Atos 22:15

Já testemunhei em processos legais mais de uma vez, e sei muito bem porque somos intimados a falar; não se trata de uma oportunidade de emitir uma opinião sobre algo, mas sim do dever de falar estritamente daquilo que você viu e ouviu. Você expõe fatos que você viveu. Ninguém tem autoridade para testemunhar com base no que outros viram, e sim naquilo que ele próprio viu. Isto é testemunhar. Jesus não considerou seus discípulos aptos a testemunhar somente pelo fato de o terem visto ressuscitado. Isto tinha muito peso, mas não bastava. Se testemunha de Cristo fosse só quem o viu ressuscitado, então a maioria dos crentes jamais poderia cumprir este papel, pois como declarou o apóstolo Pedro:

“A quem [Jesus], sem o terdes visto, amais; no qual, sem agora o verdes, mas crendo, exultais com gozo inefável e cheio de glória”. - I Pedro 1:8

Nosso relacionamento com o Senhor Jesus Cristo é pela fé. Isto significa que podemos caminhar com Ele sem a necessidade de vê-lo e que não devemos esperar que isto aconteça com ninguém, embora Deus, em sua soberania, possa revela-lo desta forma gloriosa a alguém. Mas este não é o padrão. Então, o que Ele disse que tornaria seus discípulos aptos a testemunhar era uma experiência que se repete conosco ainda hoje! Ele disse: “recebereis poder ao descer sobre vós o Espírito Santo”. Há uma ligação entre o poder do Espírito vindo sobre minha vida e o testemunho que terei para dar, porque é justamente a ação d´Ele em minha vida que me permitirá mostrar aos outros que Jesus vive em mim. Nosso testemunho é fruto de uma “parceria” entre nós e o Espírito Santo. Não é uma tarefa unicamente nossa e nem tampouco só dele; Jesus falou sobre isto:

“Quando vier o Ajudador, que eu vos enviarei da parte do Pai, o Espírito da verdade que do Pai procede, esse dará testemunho de mim; e também vós dareis testemunho, porque estais comigo desde o princípio”. - João 15;26,27

Veja bem, se testemunhar é falar do que vimos e ouvimos, então o que mais precisamos é que o Espírito Santo nos leve a provar o poder do Jesus ressurreto em nossa vida. Vejo este princípio aparecer também numa outra afirmação, desta vez de Pedro:

“E nós somos testemunhas destas coisas, e bem assim o Espírito Santo, que Deus deu àqueles que lhe obedecem”. - Atos 5:32

Fui batizado no Espírito Santo aos quinze anos de idade, e a conseqüência principal disto não foi apenas a de que Ele me deu autoridade para pregar, mas comecei a ter experiências com seu poder. Jesus passou a ser comprovadamente vivo em minha vida! Passei a ver o poder de Deus de diversas maneiras. Primeiro minha vida mudou e comecei a refletir o Jesus de quem eu ouvira desde criança, mas que não conseguia demonstrar em minha vida. Em segundo lugar, comecei a ver respostas às orações, livramentos, provisões e outros tantos milagres e intervenções do Senhor. Depois, algumas coisas começaram a acontecer quando eu orava por cura e libertação; as pessoas realmente eram tocadas pelo poder de Deus e eu lhes dizia: “Está vendo? Esta é a prova de que Jesus está vivo e se importa com você!”

Quando falo de Jesus para alguém, não apresento apenas o plano de salvação e a mensagem do arrependimento. Mostro, testemunhando o que Deus tem feito em minha vida, que Jesus está vivo. Quando falo que Cristo cura, conto as curas que já recebi, as que Deus operou na minha família e muito das que Ele efetuou por meu intermédio. O problema de muitos crentes hoje é que eles não tem nada para contar!

Já disse que um testemunho não é aceito quando apenas retrata algo que outro viu e ouviu. Se a polícia souber de alguém que é testemunha de um crime, não vai encher as páginas de um inquérito com o que alguém disse saber da boca da testemunha, vai chamar a própria testemunha para depor! Mas muitos crentes não testemunham de Jesus, contam apenas o testemunho de outros...

O que precisamos é do poder do Espírito atuando em nossa vida. Foi a isto que Jesus se referiu ao dizer que o poder do Espírito Santo desceria sobre nós. Precisamos buscar não só a unção para pregar, mas o poder que funciona em nossa vida. Então, quando abrirmos nossa boca, estaremos falando não só do que está escrito na Palavra de Deus, mas de como tudo aquilo se tornou real para nós!

VIVER PREGANDO X PREGAR VIVENDO

Há uma enorme diferença entre viver pregando e pregar vivendo. Alguns se tornaram pregadores de Cristo. Falam sobre Ele e o que Ele tem feito, mas não demonstram isto em suas vidas. Outros demonstram isto por meio de sua vida e dispensam até mesmo palavras:

“Semelhantemente vós, mulheres, sede submissas a vossos próprios maridos; para que também, se alguns deles não obedecem à Palavra, sejam ganhos sem palavra pelo procedimento de suas mulheres, considerando sua vida casta, em temor”. - I Pedro 3:1,2

Acredito que muitas vezes só deveríamos falar de Jesus depois que nossa própria vida conseguiu chamar a atenção dos outros. Pedro também ensinou sobre isto:

“Antes santificai a Cristo como Senhor em vossos corações; e estai sempre preparados para responder com mansidão e temor a todo aquele que vos pedir a razão da esperança que há em vós”. - I Pedro 3:15

O propósito deste ensino é despertá-lo a buscar o poder do Espírito Santo em sua vida. Sem ele, jamais chegaremos a ser o que Deus quer que sejamos: testemunhas eficazes. Somente pelo poder do Espírito é que romperemos numa vida cristã vitoriosa e frutífera. E quando isto acontecer, basta compartilharmos com outros o que nós temos vivido... Acredito que o processo de nos tornar testemunhas envolve três estágios distintos:
Primeiro o poder de Deus deve agir em nós

Depois contamos aos outros o que experimentamos

Então Deus confirma este testemunho com sinais

TESTEMUNHANDO O QUE PROVAMOS

Já falamos sobre buscar primeiramente a ação do poder de Deus em nós; agora quero falar sobre a importância de repartir isto com outros. Quando Jesus libertou o endemoninhado gadareno, aquele homem quis acompanha-lo em suas viagens e segui-lo, mas o Mestre lhe fez outra proposta:

“Jesus, porém, não lho permitiu, mas disse-lhe: Vai para tua casa, para os teus, e anuncia-lhes o quanto o Senhor te fez, e como teve misericórdia de ti. Ele se retirou, pois, e começou a publicar em Decápolis tudo quanto lhe fizera Jesus; e todos se admiravam”. - Marcos 5:19,20

Qual era o assunto que este homem deveria abordar ao conversar com as pessoas? Sua única mensagem era dizer o que Cristo lhe havia feito e com isto comunicar o que Deus queria fazer em favor de cada um dos homens. Quando falamos daquilo que provamos o impacto é muito maior nos que nos ouvem. O mesmo se deu com aquela mulher samaritana que Jesus encontrou junto ao poço de Jacó:

“Deixou, pois, a mulher o seu cântaro, foi à cidade e disse àqueles homens: Vinde, vede um homem que me disse tudo quanto tenho feito; será este, porventura, o Cristo? Saíram, pois, da cidade e vinham ter com ele...muitos samaritanos daquela cidade creram nele, por causa da palavra da mulher, que testificava: Ele me disse tudo quanto tenho feito”. - João 4:28-30 e 39

No início, as pessoas foram atrás de Jesus por causa da experiência dela; depois, isto já não foi mais necessário, pois começaram a ter suas próprias experiências:

“E muitos mais creram por causa da palavra dele; e diziam à mulher: Já não é pela tua palavra que nós cremos; pois agora nós mesmos temos ouvido e sabemos que este é verdadeiramente o Salvador do mundo”. - João 4:41,42

OS SINAIS QUE SE SEGUEM

“E disse-lhes: Ide por todo o mundo, e pregai o evangelho a toda criatura. Quem crer e for batizado, será salvo; mas quem não crer será condenado. E estes sinais acompanharão aos que crerem: em meu nome expulsarão demônios; falarão novas línguas; pegarão em serpentes; e se beberem alguma coisa mortífera, não lhes fará dano algum; e porão as mãos sobre os enfermos, e estes serão curados. Ora, o Senhor, depois de lhes ter falado, foi recebido no céu, e assentou-se à direita de Deus. Eles, saindo, pregaram por toda parte, cooperando com eles o Senhor, e confirmando a palavra com os sinais que os acompanhavam”. - Marcos 16:15-20

Deus prometeu que avalizaria nosso testemunho com mais provas ainda. Mas o processo de nos fazer testemunhas segue, como já afirmei, um ciclo. Primeiro provamos o poder de Deus e temos nossas experiências, depois as contamos. E quando testemunhamos o que provamos, Deus fará mais para aqueles que nos ouvem. O livro de Atos também nos mostra Deus honrando o testemunho dos apóstolos:

“Com grande poder os apóstolos davam testemunho da ressurreição do Senhor Jesus, e em todos eles havia abundante graça”. - Atos 4:33

Muitos cristãos têm tentado entrar direto neste estágio final sem permitir que o processo se estabeleça em sua própria vida no padrão que Deus estabeleceu. Mas nunca acontecerá assim! O estágio final é quando Deus coopera conosco (que já provamos o poder) e avaliza o testemunho com mais sinais. Foi exatamente assim que se deu com os apóstolos:

“Testificando Deus juntamente com eles, por sinais e prodígios, e por múltiplos milagres e dons do Espírito Santo, distribuídos segundo a sua vontade”. - Hebreus 2:4

É hora da Igreja romper em sinais e milagres. Mas primeiro precisamos levar os cristãos a entenderem a importância de, individualmente, experimentar o poder de Deus, para depois rompermos numa demonstração maior do poder de Deus (I Co.2:4).

Acredito que neste momento o que mais precisamos é nos voltar para o Senhor em oração, do mesmo jeito que os apóstolos fizeram no início (At.1:14). Isto desencadeará nossa própria experiência com o poder do Espírito Santo que, por sua vez, quando compartilhada, gerará ainda mais sinais para os outros. Foi assim com os apóstolos; depois de 10 dias perseverando em oração no cenáculo, foram cheios do Espírito Santo:

“E todos ficaram cheios do Espírito Santo, e começaram a falar noutras línguas, conforme o Espírito concedia que falassem”. - Atos 2:4

Depois, ao testemunhar de Jesus na casa de Cornélio, Pedro vê Deus avalizar seu testemunho dando àquele grupo a mesma evidência do derramar do Espírito, a ponto de Pedro comparar a experiência deles com a sua própria:

“Respondeu então Pedro: Pode alguém porventura recusar a água para que não sejam batizados estes que também, como nós, receberam o Espírito Santo?” - Atos 10:47

Tenho provado isto em minha própria vida. Os sinais e evidências que eu mesmo passei a provar ao ser cheio do Espírito Santo são reproduzidos hoje por meio de meu ministério em favor de outras pessoas. Experiências novas começaram a acontecer e demonstrar em minha vida que de fato Jesus está vivo e presente ao nosso lado todos os dias. Sem isso (mesmo tendo crescido no evangelho e sabendo expor de cor o plano de salvação) eu não seria uma testemunha eficiente.

Meu desejo é que sua vida seja um reflexo da ação do Espírito Santo, mostrando assim que Jesus Cristo de fato está vivo. Que ao pregar, você possa falar não só daquilo que você soube dele, e sim daquilo que tem provado. E se você não tem provado muito, está na hora de se despertar e cumprir com sua responsabilidade de busca-lo até que Seu poder atue em sua vida a ponto de fazer de você uma testemunha eficaz! Muitos estão adormecidos e suas vidas não refletem o propósito de seu chamado. Para estes, o Espírito Santo diz:

“Desperta, tu que dormes, e levanta-te dentre os mortos, e Cristo te iluminará “. - Efésios 5:14

CONHECENDO A CRISTO:

“Assim que, daqui por diante, a ninguém conhecemos segundo a carne; e, ainda que também tenhamos conhecido a Cristo segundo a carne, contudo, já não o conhecemos desse modo. Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é: as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo”. - II Coríntios 5:16,17

zO versículo 17 fala sobre transformação, que é a essência do Evangelho, mas não aparece na Bíblia como um texto isolado; ele está intimamente ligado ao versículo 16, que fala sobre conhecer a Cristo. Acredito que os dois assuntos estão vinculados entre si. Toda transformação experimentada pelo crente vem em função do conhecimento que ele tem de Jesus Cristo. Há dois diferentes níveis de conhecimento mencionados pelo apóstolo Paulo no versículo 16:

O conhecimento “segundo a carne”, que pertence à dimensão natural.
O conhecimento “de um outro modo”, que por ser diferente do primeiro, e mencionado em outros lugares da Bíblia, denominamos como “conhecimento espiritual”, ou ainda de “revelação”.
Paulo declara que a forma correta de se conhecer a Cristo é esta segunda. E depois de ter feito esta afirmação é que ele fala sobre o ser nova criatura, porque isto é uma conseqüência de se conhecer a Cristo “de um outro modo”.

CONHECIMENTO SEM TRANSFORMAÇÃO

Há pessoas que conheceram a Jesus de perto, até mesmo de forma íntima, e nunca chegaram a provar o seu poder transformador. Um exemplo claro disto é Judas Iscariotes, que depois de passar anos andando com Cristo, ainda assim o traiu. E seu pecado não foi somente no momento da traição, senão poderíamos até concluir que ele falhou somente nesta hora; mas João declarou em seu evangelho que Judas era ladrão e roubava o que era lançado na bolsa (Jo.12:6); e esta informação demonstra que ele nunca foi transformado de fato.

Alguém pode chegar a conhecer muita coisa sobre Cristo sem nunca ter conhecido a Cristo! As igrejas evangélicas estão cheias de gente religiosa, que foi bem ensinada sobre como ser um “bom cristão”, mas que não manifestam transformação alguma em suas vidas! São sempre as mesmas, e não há evidências de mudança genuína. Isto se deve à falta de revelação que acompanha uma verdadeira experiência com Cristo.

Quando Paulo escreveu a Timóteo, seu filho na fé, falou acerca de algumas pessoas que estavam vivendo uma vida “não transformada”:

“Elas estão sempre aprendendo, e jamais conseguem chegar ao pleno conhecimento da verdade”. - II Timóteo 3:7

OS IRMÃOS DE JESUS

Outro exemplo de conhecimento sem transformação (segundo a carne) pode ser visto nos irmãos de Jesus. Muitos de nós temos dificuldade de enxergar isto por causa da herança católica que recebemos de que Maria foi sempre virgem, mas este não é o ensino bíblico. A Palavra de Deus declara que José e Maria não se envolveram fisicamente enquanto Jesus não nasceu. Veja o que diz a Escritura Sagrada:

“E José, despertando do sonho, fez o como o anjo do Senhor lhe ordenara, e recebeu a sua mulher, e não a conheceu até que deu à luz seu filho, o primogênito; e pôs-lhe o nome de Jesus”. - Mateus 1:24,25

Um outro texto bíblico menciona os nomes dos irmãos de Jesus:

“Não é este o carpinteiro, filho de Maria e irmão de Tiago, e de José, e de Judas, e de Simão? E não estão aqui conosco suas irmãs? E escandalizavam-se nele”. - Marcos 6:3

A tradição católica afirma tratar-se de uma outra Maria, e que a palavra “irmão” neste texto não deveria ser entendida literalmente, mas o contexto do versículo é indiscutível: Jesus estava em Nazaré, sua cidade, no meio de conhecidos e familiares, portanto não há dúvida alguma de o reconheceram (com sua família) de fato.

Não temos os nomes de suas irmãs, mas quatro de seus irmãos são mencionados, o que nos faz saber que sua família era grande. E a Bíblia declara que seus irmãos não criam nele:

“Disseram-lhe, pois, seus irmãos: Sai daqui e vai para Judéia, para que também os seus discípulos vejam as obras que fazes. Porque não há ninguém que procure ser conhecido que faça coisa alguma em oculto. Se fazes essas coisas, manifesta-te ao mundo. Porque nem mesmo seus irmãos criam nele”. - João 7:3-5

Em outras palavras, poderíamos dizer que os irmãos de Jesus lhe diziam algo assim: - “Você não é o bom? Não quer aparecer? Então vá fazer seus sinais onde a multidão está reunida!” Posso deduzir que havia muito sarcasmo e cinismo por trás desta afirmação dos irmãos do Senhor.

Um outro texto bíblico nos revela que houve uma ocasião em que os irmãos de Cristo quiseram até mesmo prendê-lo por achar que ele estava louco:

“E foram para casa. E afluiu outra vez a multidão, de tal maneira que nem sequer podiam comer pão. E quando seus parentes ouviram isso, saíram para o prender, porque diziam: Está fora de si... Chegaram, então, seus irmãos e sua mãe; e, estando de fora, mandaram-no chamar”. - Marcos 3:20,21 e 31

Imagino que se houve pessoas que puderam conhecer bem a Cristo (segundo a carne), foram justamente seus irmãos. Mas só o conhecimento natural não foi suficiente para transforma-los. Em Nazaré muitos também o conheceram sem provar transformação.

REVELAÇÃO

O verdadeiro conhecimento de Jesus Cristo só se atinge por revelação, não é transmitido segundo a carne. O próprio Jesus afirmou que o apóstolo Pedro só chegou a conhece-lo devido à uma revelação:

“E, chegando Jesus às partes de Cesaréia de Filipe, interrogou os seus discípulos, dizendo: Quem dizem os homens ser o Filho do Homem? E eles disseram: Uns, João batista; outros, Elias, e outros, Jeremias ou um dos profetas. Disse-lhes ele: E vós, quem dizeis que eu sou? E Simão Pedro, respondendo disse-lhe: Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo. E Jesus, respondendo, disse-lhe: Bem-aventurado és tu, Simão Barjonas, porque não foi carne e sangue quem to revelou, mas meu Pai que está nos céus”. - Mateus 16:13-17

O que Paulo não conseguiu entender com sua mente mudou quando Jesus apareceu a ele! Há muitos exemplos bíblicos e também à nossa volta que confirmam isto. Sem uma revelação acerca de Jesus alguém pode crescer dentro de uma igreja, receber toda uma formação religiosa e até saber tudo acerca de Jesus, e mesmo assim, nunca ser transformado.

TRANSFORMAÇÃO POR UM "NOVO" CONHECIMENTO

Porém, quando esta pessoa consegue sair da dimensão de mero conhecimento intelectual e entrar numa dimensão de revelação, sua vida será drasticamente mudada. Penso que esta é uma das maiores necessidades da igreja de nossos dias.

Tiago, o irmão do Senhor (Gl.1:19) é um exemplo disto. Tanto ele como seus irmãos, não criam em Jesus. Até o momento da morte de Jesus eles sustentaram esta posição, pois não os vemos mencionados nos Evangelhos como estando por lá. E ainda reforça esta idéia o fato de que Maria estava sozinha, razão pela qual Jesus confiou o cuidado dela a João (Jo.19:26).

Só que algo aconteceu depois da morte e ressurreição de Jesus. Não temos um relato detalhado, só a menção do que houve. Mas sabemos que algo aconteceu, e que isto mudou para sempre a vida de Tiago:

“Depois foi visto por Tiago, depois por todos os apóstolos”. - I Coríntios 15:7

E aquele Tiago cínico que provocava Jesus, que quis prende-lo, que não cria nele, mudou completamente. Não mudou pelo conhecimento segundo a carne de toda uma vida fisicamente próximo de Jesus, mas quando provou uma revelação do Cristo ressurreto, tudo mudou! Acredito que esta revelação foi o marco desta mudança, pois ele já passou a ser mencionado entre os que estavam reunidos no Cenáculo (At.1:14) por ocasião do Pentecostes. E Tiago se tornou uma das colunas da Igreja em Jerusalém, mencionado antes mesmo de Pedro e João:

“E conhecendo Tiago, Cefas e João, que eram considerados como as colunas, a graça que se me havia dado, deram-nos as destras, em comunhão comigo e Barnabé, para que nós fôssemos aos gentios e eles, à circuncisão”. - Gálatas 2:9

Por ocasião do Concílio de Jerusalém, vemos todos falando sobre o motivo da controvérsia da circuncisão ser aplicada ou não aos gentios. Pedro fala, até Paulo se levanta com Barnabé e também falam, mas é quando Tiago se levanta e fala que o assunto se dá por encerrado e concluído. Que diferença entre o irmão de Jesus visto nos Evangelhos e este grande líder que ele veio a ser!

Ele ganhou muito respeito e admiração não por ter sido irmão do Senhor, mas certamente pela vida que vivia em Deus. Pela linguagem adotada em sua epístola, percebemos que Tiago era um homem de liderança forte e que não poupava confrontos. O motivo pelo qual Pedro foi repreendido por Paulo em Antioquia foi mudar de comportamento quando chegaram alguns da parte de Tiago:

“E, chegando Pedro à Antioquia, lhe resisti na cara, porque era repreensível. Porque, antes que alguns tivessem chegado da parte de Tiago, comia com os gentios; mas, depois, que chegaram, se foi se retirando e se apartou deles, temendo os que eram da circuncisão”. - Gálatas 2:11 e 12

Porque Pedro temeria os da parte de Tiago? Certamente pela sua liderança e influência que veio a ter entre os crentes de Jerusalém, Pedro preferia evitar confrontos com ele. Isto tudo indica o homem de Deus que Tiago passou a ser depois de ter recebido sua revelação do Cristo ressurreto.

TRANSFORMAÇÃO ESTAGNADA

Diferentemente do primeiro grupo mencionado, que nunca teve uma transformação, há muitos dentro das igrejas que tiveram uma experiência inicial de transformação. Contudo, de alguma forma, com o passar do tempo, estagnaram na fé e na experiência e não percebem mais diferença alguma em suas vidas. O que os impediu de continuarem provando a transformação?

Certamente não foi por não conhece-la, pois estas pessoas são justamente aquelas que se encontram insatisfeitas, desejosas de mudança, uma vez que já provaram-na um dia. E é preciso ressaltar que, sob circunstância alguma podemos admitir a ausência do processo de transformação, uma vez que “a vereda dos justos é como a luz da aurora, que vai brilhando mais e mais até ser dia perfeito” (Pv.4:18). Ninguém é transformado instantaneamente. Algumas áreas de nossa vida podem ser impactadas e mudadas mais rapidamente, porém não será assim em todas as áreas. Se o processo de transformação estagnou, é porque a revelação de Cristo em nossa vida também estagnou.

Precisamos retomar a busca pelo conhecimento revelado em nossas vidas, pois somente assim avançaremos no processo de transformação. A palavra grega traduzida por revelação, do grego “appocalipse”, significa: “remover o véu”. Indica a remoção de um empecilho à visão que, em nosso caso, é a dificuldade de entender as coisas espirituais.

“Ora, o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque para ele são loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente”. - I Coríntios 2:14

Somente pela ação do Espírito Santo em nossas vidas podemos penetrar esta dimensão de entendimento. Foi o que aconteceu conosco quando nos convertemos ao Senhor Jesus:

“Mas o entendimento lhes ficou endurecido. Pois até o dia de hoje, à leitura do velho pacto, permanece o mesmo véu, não lhes sendo revelado que em Cristo é ele abolido; sim, até o dia de hoje, sempre que Moisés é lido, um véu está posto sobre o coração deles. Contudo, convertendo-se um deles ao Senhor, é-lhe tirado o véu”. - II Coríntios 3:14-16

Só que, com o passar do tempo, muitos de nós nos inclinamos a uma busca de entendimento meramente intelectual (segundo a carne), e isto nos rouba o processo de transformação, que não se dá só por aquisição de informação, mas pelo impacto do Espírito Santo em nosso íntimo. Não podemos parar. Não podemos estagnar na revelação de Cristo!

CONHECIMENTO PROGRESSIVO

A Bíblia nos exorta em avançar no pleno conhecimento de Deus:

“Conheçamos e prossigamos em conhecer ao Senhor...” - Oséias 6:3

Conhecer a Deus é um ato progressivo e contínuo. Veja o que Paulo declarou depois de anos de comunhão e intimidade com Cristo:

“Sim, na verdade, tenho também como perda todas as coisas pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; pelo qual sofri a perda de todas as coisas, para que possa ganhar a Cristo... para conhecê-lo, e o poder da sua ressurreição e a participação dos seus sofrimentos, conformando-me com ele na sua morte, para ver se de alguma forma consigo chegar à ressurreição dentre os mortos. Não que já a tenha alcançado, ou que seja perfeito; mas vou prosseguindo, para ver se poderei alcançar aquilo para o que fui alcançado por Cristo Jesus”. - Filipenses 3:8,10-12

Se pararmos de avançar, não alcançaremos o propósito de Deus para nossa existência. Devemos crescer até a plenitude do conhecimento de Cristo:

“Para que os seus corações sejam animados, estando unidos em amor, e enriquecidos da plenitude do entendimento para o pleno conhecimento do mistério de Deus – Cristo, no qual estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e da ciência”. - Colossenses 2:2,3

Que o Pai Celeste nos ajude a prosseguir na revelação de seu Filho Jesus!